quarta-feira, 6 de julho de 2011

Você vai chegar lá...



Cheguei aos 60! E agora? O que faço? Sem dúvida, qualquer um que ler esta frase, irá remetê-la imediatamente a alguém da terceira idade. Irá relacionar quem sabe com aquela senhora que, aparentemente, vive cansada, porém alegre com a vida, carregando seu carrinho abarrotado de furtas, hortaliças e alguns pés-de-moleque; ou com aquele tiozinho que vive sentado na entrada da farmácia (feliz por ter conseguido este emprego de porteiro), observando atentamente quem entra e sai, e de vez em quando ganhando agradáveis ou forçados “ois”. O fato é que socialmente falando, a terceira idade chega para quem atinge a casa dos sessenta.
Existe uma comunidade na famosa página de relacionamentos, o Orkut, que pode sintetizar a vontade que me dá quando vejo uma pessoa – aparentemente da terceira idade – em algum lugar. A senhora do carrinho e o tio da farmácia, acima citados não são personagens imaginários, não para mim. Eles existem e os escolhi por serem pessoas que sempre que vejo tenho vontade de cumprimentar e satisfação em ouvir aquela estória. A referida comunidade virtual chama-se: Eu adoro conversar com idosos.
Achei muito engraçado, o dia em que Dona Vale (abreviação do nome dela), me encontrou no supermercado e imediatamente venho cumprimentar-me. No meio do papo eu a mirei e disse-lhe: Mas como a senhora emagreceu. Sua fala sintetizou-se em: É meu filho, eu ando trabalhando demais. Ela sempre troca o meu nome; Chama-me de Rodrigo, Rafael, Rogério e por aí se vai (ela nem sequer chega perto do L). Mas isso não importa. Dona Vale tem dois filhos, mas é ela quem sempre vai às compras e volta pra sua casa repleta de sacolas e sorrisos para distribuir no caminho.
Certa vez, quando voltava da faculdade, tomei o ônibus e quem estava lá? Sim, a querida Dona Vale, sentada em um dos bancos destinados aos demais passageiros. Que assento preferencial o que! Ela faz questão de pagar por seu lugar como qualquer usuário do coletivo. Assim, não tem que depender da boa vontade de quem está já sentado no assento da frente e insiste em fingir que não está fazendo nada de errado; Afinal é muito fácil encostar a cabeça naquela janelinha (que vive fechada), viajar o caminho inteiro “falando ao celular” ou simplesmente recusar-se a ceder o lugar e ponto. Pois é! Dona Vale sentou-se atrás, mas isto não era o suficiente. Ela tinha que fazer algumas reclamações e aproveitou que o ônibus estava lotado para queixar-se do preço da passagem, do espaço que tinha no banco para junto consigo carregar sua neta no colo e duas ou três sacolas, além de tentar brava e insistentemente abrir aquela janela que vive emperrada.
E se tratando de boas maneiras, que tal conhecer melhor o tio da farmácia. Bom! Este tem que me desculpar por todas às vezes que eu o encontro, pois sempre troco seu nome. Para não expô-lo também, vamos chamá-lo mais uma vez de Seu José. Seu José é o típico vovô que leva o cachorro para passear e que nunca reclama quando peço a gentileza de segurar minhas coisas para eu subir na balança da farmácia. Seu José é casado com uma adorada senhora, a Eni. Esta pelo menos não troca meu nome, já o Seu José, nem sei se sabe. O importante é que ele sempre tem um caso inusitado para me contar. Afinal, nem imaginamos os contos que poderiam ser escritos por alguém que observa o dia a dia de uma farmácia.
Mas por trás deste período da vida existem muitos mitos e tabus. É muito fácil para alguém dizer que adora conversar com um idoso, que tem adoração pelos avós, que admira aquele que voltou à escola, mas quando toca-se em questões mais profundas da terceira idade, surgem polêmicas envolvendo até mesmo preconceito com aspectos absolutamente normais; Como por exemplo, a sexualidade na terceira idade. Para você é normal imaginar dois idosos se beijando ou transando? Quantos hoje em plena juventude têm total aversão quando se imagina com o rosto enrugado ou o corpo menos favorecido? Quanto as indústrias (criadas devida a obsessão pela beleza) lucram com procedimentos de implantes e rejuvenescimento com pessoas que não admitem abrir a porta e receber esta fase? Por que o fio branco virou sinônimo de ofensa e precisa ser tapado com doses químicas? Será que são estas as variáveis que resultam na fórmula pela eterna juventude?
Não pense que sempre teremos um José e uma Dona Vale para observar e que se contentar com esta “admiração” é tudo. Que tal sermos mais flexíveis e pacientes quando estamos na fila e a senhora da frente precisa procurar na bolsa o extrato para apresentar ao atendente? Porque não permitir que aquele idoso faça um tremendo esforço para ajoelhar-se, quando na verdade para nós é muito simples passar por cima do jornal caído? Quando será encarada com naturalidade a presença de um casal da terceira idade na balada, sem serem feitos cochichos e brincadeiras ofensivas?
Eu até acho que ser velho já foi bom. Mas isto foi nos tempos de outrora. 




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