sábado, 16 de julho de 2011

Eles e Eles

Eles gritam veados. Eles chamam de bichas. Eles zombam. Eles julgam errado. Discriminam. Apontam como os diferentes. Tentam e às vezes ridicularizam, gerando sentimentos de tristeza, dor e revolta. Há casos de espancamento; É preferível expressar a indignação com socos e pontapés? Mortes? Há também homicídios. Mas o pior é quando o suicídio é uma opção. Onde refugiar-se de tanta agressão? E quando o refúgio é a fonte dos ataques?! Seja em casa ou na rua, no trabalho ou na faculdade, ele existe. Ele está presente.
Eles brincam e adoram as bonecas. Elas correm efusivamente atrás da bola. No futebol ou na casinha há algo em comum. Elas querem, a qualquer custo, usar aquele boné. Eles insistem em calçar o salto da mamãe. Há distinção no lúdico pela professora, que teima em dividir os meninos com o futebol, das meninas com o “pula corda”.
Micropolíticas são criadas constantemente. As Passeatas mobilizam as populações, fortalecem o público gay e enfurecem os “ditos juízes” (aqueles preconceituosos, os machistas, os pequenos, a igreja, os neonazistas) e, infelizmente até as crianças, que passam a crescer num meio aversivo ao que deveria ser considerado no mínimo normal.
O Estado aprova a união homoafetiva, mas a Globo poda o beijo entre dois homens. E o que falar do tão polêmico Kit Gay? Aquele que também foi vedado com o embasamento de que as crianças poderiam ser influenciadas a comportamentos homossexuais ou que a escola estaria aprovando e, até mesmo apoiando as relações entre pessoas do mesmo sexo. O fato é que independentemente da escola aderir ou não ao Kit Gay, os alunos já devem ir educados de casa pelos pais (que na maioria dos casos estimulam o preconceito com as piadinhas “inocentes” e orientações contundentes a esta questão). É válido ressaltar que o papel da escola é ensinar. A educação provém de casa. É de berço. 
Mas o fato do projeto não ter sido aprovado, não deve apavorar tanto. Afinal, seria muito bom para ser verdade: União estável e Kit Gay no mesmo ano. Não né! Muito avanço pra este Brasil. Este Brasil que ainda tem muito a percorrer e a correr também. Correr em busca de uma evolução. Correr em busca dos direitos humanos. Correr atrás da igualdade, do progresso – honrar o lema patriarcal que ilustra nossa bandeira, bem como os sagrados versos da música presente na contracapa daquele livrinho que ocupa sua estante há séculos: “Se o penhor dessa igualdade”; “Em teu seio, ó Liberdade”. Como pode haver igualdade, se na seleção para a vaga de vendedor, o escolhido dificilmente será o homossexual? Quando duas mulheres poderão exercer seus direitos de cidadãs e de casal, sem serem vítimas de agressões físicas ou morais? Ó Liberdade essa!
Entretanto, há muito mais por detrás do hino ou do verde da bandeira do Brasil. Infelizmente ou felizmente, a maioria da população brasileira é católica – os evangélicos estão tentando dominar. Mas o catolicismo ainda predomina. Movimentos e ações de mobilizações caracterizam a opinião da “maioria”. O pastor indignado reúne o povo e cospe insultos contra os gays, os evangélicos tentam justificar afirmando: Ele está possuído! Isto é culpa do diabo. Sobrou pra ele de novo; Aliás, os comportamentos reprováveis (pela igreja) e os próprios instintos primitivos são culpa de quem? Para que responsabilizar o homem por seus atos, quando na verdade é muito mais cômodo culpar o “do mal”. É ele também o culpado pelas notas de cinquenta ou pelo carro zero do pastor?
Sei que muitos aspectos podem não servir como exemplo. Mas por que há casos de prostituição? Jornais apontam que jovens homossexuais seguem este caminho por falta de oportunidades. Oportunidades de inserção no mercado, oportunidades de uma vida melhor, de uma família mais acolhedora. Falta de amor. Falta de elogio – Você não gosta de receber? Alguns fazem por prazer, outros por falta de grana e de melhores oportunidades, sim.
Mas insisto. E quando o suicídio é uma opção? A pior das solidões é a solidão do grupo. Se ele se sente só dentro da própria família e é a razão das chacotas na rua; A escola não tem mais voz ativa, uma vez instalados os pré-conceitos. Surge a autodestruição e a autopunição. E pronto. Neste conflito interno qual é a tática para evitar o pior? Onde preencher estas lacunas? Talvez em si próprio. É preciso se valorizar. Se amar. Buscar em si mesmo o que os outros não podem oferecer.
No final das contas eles podem continuar zombando, ridicularizando, agredindo ou gracejando; Afinal ainda vivemos num país, que considera uma evolução a união estável entre gays e que qualquer mísero avanço neste contexto pode ser um grande passo na luta contra a as diferenças sociais e o preconceito.
Resta-nos, portanto, fazer algo para que de alguma maneira possamos contribuir para esta evolução. Esta evolução que pode começar agora mesmo. Basta você querer.

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